Do processo de reciclagem de lâmpadas (tubos fluorescentes, CFL e lâmpadas de descarga) resulta essencialmente vidro fino, vidro grosseiro e metais. Estes materiais consistem num tipo de resíduo, essencialmente sob a forma de fragmentos de vidro, que tem como destino mais usual a deposição em aterro. De forma a evitar este destino, foi realizado um estudo laboratorial de incorporação em pasta cerâmica.

Assim, pretendeu-se com o estudo incorporar estes fragmentos de vidro provenientes da reciclagem de lâmpadas em composição cerâmica, nomeadamente valorizando aqueles materiais cujo destino final usual é a deposição em aterro e promovendo um uso mais eficiente e racional dos seus recursos naturais, nomeadamente a diminuição da utilização dos materiais argilosos.

Deste modo pretendeu‐se desenvolver simbioses industriais, onde os desperdícios, subprodutos ou resíduos de outras indústrias, são valorizados como recursos (matérias‐primas) na cerâmica, promovendo‐se assim estratégias de eco‐inovação e de economia circular.

O estudo desenvolvido perspetivou a valorização do resíduo resultante das lâmpadas fluorescentes, do qual resultam duas frações (2x0,3 cm e 7x0,6 cm), tendo sido misturadas estas duas frações e formado uma única amostra para incorporação na composição cerâmica. Esta amostra é constituída por vidro (> 97%), resina/cola (≈ 0,4%), filamentos (≈ 1%), vidro escuro (≈ 1%), baquelite (≈ 0,5%) e metal (≈ 0,7%).

O estudo laboratorial permitiu concluir que o resíduo de vidro, proveniente da reciclagem de lâmpadas fluorescentes, apresenta potencialidade para ser incorporado industrialmente no sector cerâmico, nomeadamente no sector da construção, no tijolo. Neste estudo verificou-se que as características tecnológicas da pasta cerâmica de referência não sofreram alterações significativas, com as diferentes percentagens de incorporação do resíduo de vidro, nomeadamente com 1 e 3%. No entanto, devido ao tipo de produto a incorporar pode ser expectável a ocorrência de alguma fusibilidade.

Posteriormente, o ensaio semi-industrial realizado na empresa cerâmica, com uma percentagem de incorporação entre 1 e 3%, em peso seco, de forma a minimizar os problemas com o material fundido na superfície dos produtos, permitiu concluir a viabilidade de incorporação e classificar os tijolos com resíduo para deposição em aterro como “inerte”.

Salienta-se, no entanto, que será necessário proceder à retirada de alguns fragmentos de metal existentes na amostra de vidro, o que aconteceu no ensaio realizado na empresa cerâmica, tendo em conta que o processo de fabrico daquela empresa tem previsto a retirada de material ferroso.